quarta-feira, 28 de abril de 2010

Gramatica - Advérbio

Os advérbios indicam as circunstâncias em que o processo verbal se realiza. Eles podem também intensificar o sentido expresso pelos adjetivos ou até mesmo outros advérbios.


Os advérbio contituem uma classe de palavras invariáveis que modificam um verbo, um adjetivo, outro advérbio ou uma oração inteira.

A apresentação do circo terminou tarde. ( O advérbio tarde modifica o verbo terminou)

Apesar de faltarem dois palhaços, o espetáculo foi bastante divertido. (Nesse exemplo, o advérbio bastante modifica o adjetivo divertido.)

Depois da apresentação, dois trapezistas não se sentiram muito bem. ( O advérbio muito modifica o advérbio bem.)

Certamente, o espetáculo não pode parar (O advérbio certamente refere-se a uma oração inteira.)


LOCUÇÃO ADVERBIAL

Quando uma advérbio vier expresso por duas ou mais palavras, forma-se uma locução advérbial. As locuções advérbiais geralmente são contituidas por preposição + substantivo, adjetivo ou advérbio.

Veja, destacadas nas orações a seguir, algumas locuções advérbiais:

Às vezes voce me pergunta / porque é que eu sou tão calado / não falo de amor quase nada / nem fico sorrindo ao seu lado.


Ficaram às escuras no corredor. Felizmente trazia o moço fósforos no algibeira, acendeu outra vez a vela e fitou os olhos na recém-chegada.


Machado de Assis.
"Casa, não casa".


CLASSIFICAÇÃO DOS ADVÉRBIOS

De acordo com as circunstâncias que expressam, os advérbios podem ser de:

a) afirmação: sim, realmente , certamente, deveras, perfeitamente, positivamente, efetivamente, incontestavelmente, positivamente, efetivamente, incontestavelmente etc.

b) dúvida: talvez, porventura, quiçá, acaso, provavelmente etc.

c) intensidade: bastante, demais, mais, menos, muito, pouco, assaz, quase, tão etc.

d) lugar: abaixo, acima, adiante, além, ali, aqui, cá, atrás, dentro, fora, lá, perto, longe, acolá, aquém, onde, algures ( em algum lugar), alhures ( em outro lugar), detrás, defronte, junto etc.

e) modo: assim, bem, devagar, depressa, mal, pior, melhor, certo, debalde, duramente, facilmente, rapidamente, (e todos que terminam em -mente, indicando circunstância de modo) etc.

f) negação: não, jamais, nunca, tampouco, absolutamente etc.

g) tempo: agora, ainda, amanhã, cedo, tarde, nunca, jamais, depois, já, logo, outrora, sempre, antes, hoje, ontem, breve etc.

Nas frases interrogativas, podem ocorrer os advérbios interrogativos que expessam circunstâncias de:

a) lugar: onde, aonde, de onde. De onde voce vem?

b) tempo: quando. Quando você pretende viajar?

c) modo: como. Como você pretende sair daqui?

d) causa: por que, por quê. Por que você não quer me ver?

Gramatica - Numeral

Os numerais formam uma classe de palavras que indicam os números ou a posição que os seres ocupam numa série.

Dependendo do que indicam, os numerais podem se classificar em cardinais, ordinais, fracionários, ou multiplicativos.

CLASSIFICAÇÃO DOS NUMERAIS

Cardinais


Os numerais cardinais designam quantidades determinadas. Exemplo:

Naquela madrugada, três carros foram roubados, e nove pessoas, sequestradas

Flexiionam-se em gênero os numerais cardinais um (uma), dois (duas) e os que indicam centenas: duzentos (duzentas), trzentos (trezentas). Em número, flexionam-se os numerais milhão (milhões), bilhão (bilhões), trilhão (trilhões) etc. Os demais cardinais são invariáveis.

Ordinais

Os numerais ordinais indicam a ordem ou posição de sucessão.

O centésimo colocado foi o último a conseguir uma vaga.


  • Geralmente, os ordinais têm valor de adjetivo; entretanto, podem ser substantivos.
  • Todos os nemerais ordinais sofrem variação em gênero e número.

Multiplicativos

Os numerais multiplicativos indicam multiplicação das quantidades.

"Segundo informações pretadas por organizações não governamentais, os paises que entraram para União Europeia (UE) em 1º de maio de 2004 consomem mais do dobro da energia dos 15 estados-menbros já existentes, por cada unidade de produção econômica."

Os numerais multiplicativos são invariaveis quando estão na função de substantivo. Exemplo:

Tiveram o dobro de empenho e atingiram o triplo de lucros.

Sofrem, porém, variação em gênero e número quando possuem função de adjetivo. Exemplo:

As doses triplas das vacinas foram feitas durante o período de ano letivo.

FRACIONÁRIOS

Os numerais fracionários indicam a divisão ou fração das quantidades. Exemplos:

Dois terços da população daquela miserável cidade não tinham acesso à água potável.

Se eu conseguir derrubar um quinto dos bastões, já ficarei contente.

Metade dos convidados não levou presentes aos anfitriões.

Assim como os numerais ordinais, os fracionários variam em gênero e número: um terço, uma terça parte; dois quintos, duas quintas partes etc.


Há numerais que podem sofrer, ainda, variação de grau, a qual pode indicar admiração ou simplesmente transmitir ideia de grau de importância menos. Veja os exemplos:

O sapato novo que quero custa apenas cenzinho! (A intenção ao se usar o diminutivo em casos como esse é fazer com que o valor pareça menos do que realmente é.)

Ele consegue ser o preimeirão da turma em todas as disciplinas. (Nesse caso, o emprego do aumentativo indica admiração.)

EMPREGO DOS NUMERAIS

Empregamos os numerais ordinais até o número dez e os numerais cardinais após o dez para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes de uma obra, quando o numeral vier depois do substantivo que ele designa.

Exemplos:

Papa Paulo VI (sexto), para João XXIII (vinte e três), d. Pedro I (primeiro), Luis XV (quinze), século VI (sexto), século XXI (vinte e um), capítulo IV (quarto), capítulo XIX (dezenove).

Se o numeral estiver posicionado antes do substantivo continua-se empregando o ordinal após o décimo.

Emprega-se os numerais ordinais até o nono e os numerais cardinais do dez em diante para designar leis, decretores o portarias. Exemplos:

Artigo 1º (primeiro), artigo 9º (nono), artigo 10 (dez), artigo 22 (vinte e dois).

Ao designarem os dias do mês, usam-se tradicionamente o numeral ordinal para o prmeiro dia e os numerais cardinais para o demais. Exemplos:

São feriados mundiais os dias 1º (primeiro) de janeiro e 1º (primeiro) de maio, em que se comemoram a confraternização universal e o Dia do Trabalho, respectivamente.

No dia 7 (sete) de setembro comemoramos a independencia no Brasil.


Artigo

Artigo é a palavra que precede o substantivo, individualizando-o ou generalizando-o.

Os artigos classificam-se em:

  • definidos (o, a, os, as): juntam-se aos substantivos de forma que estes ser claramente determinados pelo leitor ou ouvinte. Atribuem àquele que determinam um sentido preciso, particularizando-o.
  • indefinidos (um, uma, uns, umas): juntam-se aos substantivos, indicando-os de manira indeterminam um sentido genérico.

EMPREGO DO ARTIGO

  • Como o artigo se caracteriza por ser a palavra que introduz o substantivo, indicando o gênero e o número, qualquer palavra ou expressão antecedida de artigo se torna substantivo. Exemplo:
O sofrer algumas vezes enobrece o viver.

Os artigos podem contrair-se ou combinar-se com certas preposições (a, de, em, per). Exemplos:

Preocupei-me com a prova formulada pelo professor de português. (pelo: preposição per+artigo o)


  • O artigo esclarece o gênero (masculino e feminino) e o número (singular e plural) do substantivo: a omoplata (substantivo feminino singular), o guaraná (substantivo masculino singular).
  • Usa-se o artigo depois dos pronomes todo, toda, todos, todas, para significar a totalidade: Todos os hópedes estrangeiros deixaram o hotel naquele dia. / Comemos toda a torta. (= a torta inteira)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O inicio do humanismo em portugal

No inicio do século XIV, começava a nascer o Humanismo, movimento intelectual que reformulou a filosofia, a arte e as ciências. Nas letras, as obras dos italianos Petrarca e Dante Alighieri inspiraram poetas de diversos outros países europeus.

Em parte, a posição servil diante da Igreja foi abandonada, em nome da valorização dos estudos clássicos e do privilégio da razão. O antropocentrismo ("o homem como centro") substituiu o teocentrismo característico da Idade Média. Valorizou-se o homem, com suas potencialidades e seu poder de ditar o próprio destino. A imagem de um Deus cruel foi substituida por um Deus de bondade, cuja grandeza podia ser verificada até nas coisas da natureza, que deveria ser contemplada.

Também a literatura começava a refletir essa nova visão de mundo, abrindo as portas para a revolução do Renascimento.


O HUMANISMO EM PORTUGAL


Portugal do inicio do século XV caracterizou-se pela adoção de novos valores, novos estilos literários e novos ideais. A lingua portuguesa ganhava contornos próprios enriquecida pela aproximação cultural com as tendências clássicas que partiam da Itália para todo o continente europeu.

Cronologicamente, o Humanismo português praticamente coincide com o período das grandes navegações. Compreende-se entre 1434 (quando Fernão Lopes é escolhido para o cargo de cronista-mor do reino e inicia a historiografia portuguesa) e 1527 (quando o poeta luso Sá de Miranda retorna da Itália, trazendo novas tendências estéticas, aprendidas com os autores renascentistas italianos). A Europa da época vivia grandes transformações registradas por certos historiadores chamados humanistas, estudiosos ligados à Igreja e artistas independentes ou protegidos por ricos mercadores. Graças a seus estudos e reflexões, foi possível situar o homem como dono do próprio destino, valorizando os direitos do indivíduo e permitindo o avanço das ciências.

A expansão marítima provocaria uma mudança radical de comportamento do povo luso, pois o contato com novos povos deu ao português um caráter mais prático e menos contemplativo, o que seria muito útil para os avanços ideológicos da época.


A historiografia de Fernão Lopes, a literatura moralista e didática de Avis, a poesia palaciana e o teatro de Gil Vicente compuseram o que seria mais fecundo nesse período cultural português. Embora pertencentes ao período renascentista, esses autores ainda estavam, de certo modo, presos a um tipo de cultura medieval, evidenciada pela interpretação cristã do homem, de forte embasamento tradicionalista, cavaleirescoe proselitista.


A HISTORIOGRAFIA DE FERNÃO LOPES

A historiografia de portuguesa surgiu com os nobliários (ou livros de linhagem), obras que se prestavam simplesmente a traçar a genealogia das familias nobres. O cronista Fernão Lopes mudou esse conceito, produzindo uma historiografia em forma de crônicas internacionamente artísticas, com um espírito literário inconfundível, além de um extraordinário senso de investigação.

Em 1434, Fernão Lopes foi promovido do guarda-mor da Torre do Tombo a cronista-mor, com a função de escrever a história dos antigos reis de Portugal. Ficou conhecido como " o Heródoto português", em referência ao historiador grego. Sua capacidade crítica e a meticulosidade documental deram um valor inestimável a seu trabalho. A Crônica d'el-rei d. João I são obras profundamente comprometidas com a arte e a história.

A POESIA PALACIANA

No reinado de d. Afonso V, eram frequentes, na corte, reuniões em que se valorizavam diversas formas de expressão artística, o que colaborou para enriquecer a vida social do palácio.

Embora chamada poesia palaciana tenha tratado de numerosos temas, seu apogeu esteve voltado para as coisas de amor, com destaque para um sofrimento que a remetia à poesia dos travadores. A temática amorosa, no entanto, ganhou nova abordagem: a súplica pungente da poesia medieval deu lugar a um texto em que a mulher era tratada com mais intimidade, deixando de lado a veneração platônica e a imagem idealizada, próprias dos trovadores.

Obs:

A prudução palaciana foi renida no Cancioneiro geral, publicado por Garcia de Resende em 1516, e coleta mais de mil poemas, 300 autores.

A inovação também repercutiu nos aspectos formais da poesia, por exemplo, quanto ao número de sílabas métricas dos versos. Continuou a ser usada a redondinha, ou seja, o verso de sete sílabas métricas (conhecido como redondilha maior), que dá ao poema um ritmo mais àgil, facilitando a memorização.

A poesia palaciana cultivou diversas formas, das quais as mais comuns eram:

  • a trova, poema com duas ou mais estrofes;
  • o vilancete, poema que incluía um (tema ou assunto com poucos versos) e algumas voltas ou glosas (desenvolvimento do mote);
Posteriormente, esse estilo recebeu o nome de medida velha, já que a ele viria se opor a medida nova, estilo renascentista do século XVI.

A prosa medieval

O primeiro periodo da prosa medieval portuguesa não teve a mesma fecundidade da poesia. Redigida em português arcaico, revela pouco interesse sob o ponto de vista literário. As principais produções foram:

  • Hagiografias. Relatos da vida e dos milagres dos santos católicos.
  • Livros de linhagem ( ou nobliliários). Relatos do nascimento e casamentos dos fidalgos da corte portuguesa; têm importâcia apenas histórica, não traduzindo espírito artistico-literário.
  • Cronições. Crônicas sobre a vida na corte, são meros relatos, sem qualquer conotação literária.
  • Novelas de cavalaria. Ponto alto do primeiro momento da prosa medieval, pois narram histórias de grandes batalhas e heróis. De origem desconhecida, foram trazidas de fora para Portugal (assim como as cantigas). Sua temática romanesca caia no agrado do povo, além do misticismo e do clima de exaltação com que contaminavam o momento. As novelas de cavalaria eram comuns a toda a Europa, mudando apenas de acordo com a inspiração dos artistas locais. Obedecem a ciclos, tomando por base a temática central, assim distribuidos:
a) Ciclo bretão (ou arturiano). Os heróis são o rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. A mais importante novela desse ciclo é A demanda do Santo Graal, que narra a luta dos cavaleiros em busca do calice sagrado.

b) Ciclo greco-latino. Referem-se às grandes histórias e aos heróis da Antiguidade greco-romana.

c) Ciclo carolíngio. Os heróis são Carlos Magno e os doze pares de França, em sua luta contra os saxões.

Curiosamente, a novela de cavalaria mais importante não faz parte de nenhum desses ciclos. Trata-se de Amadis de Gaula, cuja história consiste no amor entre Amadis e Oriana; de autor desconhecido.

domingo, 4 de abril de 2010

O Trovadorismo em Portugal

Na Europa da idade Média, a produção literária permaneceu fortemente vinculada à vida religiosa. Padres e monges estudavam os textos sagrados e traduziam as obras de filósofos (Aristóteles e Platão, por exemplo). Imperava o latim. Essa forte influência da religião marcou a cultura da Idade Média com uma visão teocêntrica do mundo, levando o homem à completa submissão às normas da igreja católica, representante única e exclusiva de Deus na Terra.

A servidão a Deus explica um dos principios fundamentais da literatura medieval: a total submissão do trovador à sua dama (na poesia) ou do cavaleiro à donzela (nas novelas de cavalaria).

A literatura medieval portuguesa tem sua origem no século XII, em Provença, sul da França. A riqueza linguística e o desenvolvimento econômico da região deram origem a uma literatura singela e agradável, caracteristicamente ingênua e sentimental, ponteada por apelos amorosos, paixões não correspondidas e até mesmo sátiras.

Seus principais representantes eram os trovadores (quaser sempre nobres que faziam trovas, composições que aliavam a poesia à musica), os segréis (espécie de trovadores profissionais, pagos para compor seus trabalhos) e os jograis (declamadores de trovas alherias).

No Trovadorismo, musica e poesia complementam-se, o que explica a designação de cantigas, dada a muitas cirações literárias de época.


CANTIGA DE AMIGO

Na época do trovadorismo, todas as composições eram feitas por homens, porém, o eu lirico era feminino. A mulher era o tema dessa poesia, aparecendo representada pela moça ingênua, casadoira, que se queixava - à própria mãe, a uma amiga ou à natureza - das saudades que sentia do amigo (namorado) que partira para a guerra. Observe o exemplo a seguir:


- Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
ai, Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que me á jurado?
ai, Deus, e u é?


D. Dinis


A cantiga apresentada foi composta por d. Dinis, considerado o melhor trovador Português. Constitui um tipo de cantiga de amigo denominada paralelistica, de concepção genuinamente portuguesa. A técnica consiste em repetir a ideia central em duas séries de estrofes paralelas, ou seja, mudando-se apenas a última palavra de cada verso.


- Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
[...]
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
[...]


OBESERVAÇÃO

D. Dinis foi rei de Portugal entre 1261 e 1291. Deixou quase 140 composições, entre cantigas de amor, de amigo e de maldizer. Fundou a Universidade de Lisboa e foi um dos maiores protetores das letra e dos artistas de Portugal.


Outras formas de cantigas de amigo são as albas (cantigas que saúdam o nascer do sol), as serenas (que louvam o poente), as barcarolas (cuja temática são os dramas do mar), as bailias ou bailadas (cantigas próprias para as danças) e as romarias (apropriadas para comemorações religiosas).


CANTIGA DE AMOR

De procedência provençal, a cantiga de amor retrata a vida da corte, o que lhe confere um ar refinado e culto. Tipicamente urbana, tem sua temática centralizada na coita d'amor, ou seja, o sofrimento de um homem pelo amor não correspondido de uma mulher. Portanto, o eu lírico é masculino.

Trata-se de um drama altamente passional, em que o homem muitas vezes se posiciona como o vassalo da mulher amada, que se torna impiedosa, com suas negativas constantes. A inacessibilidade permite a idealização da mulher amada, objeto do desejo tornado impossivel.

O texto a seguir é a Cantiga da ribeirinha, considerada a primeira obra em lingua portuguesa, datada de 1189 (ou 1198). Trata-se de uma cantiga de amor dirigida a Maria Paes Ribeiro, a "Ribeirinha", amante de d. Sancho I.


No mundo non me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós - e ai!
mia senhor braca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mai senhor, dês aquel di', ai!
me foi ami mui mal,
a vós filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valia d'ua correa.

Paio Soares de Traveirós



CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER

As cantigas de escárni e maldizer são satíricas e diferem-se em soi aspectos:

  • A cantiga de escárnio faz uma crítica indireta, de forma irônica, sem aludir ao nome da pessoa criticada; a terminologia é elegante e discreta; a crítica é subentendida.
  • Na cantiga de maldizer, o criticado é citdo literalmente, e a terminologia é deselegante, de baixo calão; os palavrões são constantes; os criticados são nobres decadentes, mulheres de vida duvidosa, e assim por diante.
Ai dona fea! foste-vos queixar
porque vos nunca nouv'en meu trobar
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Ai dona fea, se Deus me perdon!
e pois havedes tanto gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei;
dona fea, velha e sandia!


João Garcia de Guilhade



Martim jogral, que defeita,
sempre convosco se deita
vossa mulher!
Vedes-me andar suspirando;
e vós deitado, gozando
vossa mulher!
do meu mal não vos doeis;
morro eu e vós fodeis
vossa mulher!



João Garcia de Guilhade

O Papel da literatura

A humanidade manifesta-se em diversas formas de expressão artistica, como literatura, dança, pintura, escultura, arquitetura, cinema.

Qualquer expressão artistica faz aflorar os sentimentos. Angústias, paixões , raiva e medo não escapam ao pincel ou à caneta do artista. Nesse sentido, a arte é o retrato social de uma época e permite recobrar a maneira como o artista vivenciou certa experiência. Resgata, ainda, o conjunto de influências ao qual ele estava submetido, que remete a um determinado contexto histórico, social, politico, econômico, filosófico ou religioso.

Pela literatura o leitor entra em contato com o vasto conjunto de experiências acumuladas pela humanidade.

A obra literária conduz o homen ao universo das indagações, despertando o conhecimento. Possui uma capacidade infinita de encantamento e sedução, além de uma força criadora que inspira o levantamento das conquistas individuais e sociais, interpretadas sob o dominio da arte. Ao longo dos séculos, a literatura tem se mostrado a mais poderosa forma de expressão.

Figura1. È impossivel olhar a tela Guernica (pintada por Pablo Picasso, para representar a Guerra Civil Espanhola) e desconsiderar o que transcende à retratação de um momento histórico. Nela, não podem ser negados os horrores da guerra.

Obesevação

O mestre Massaud Moisés definiu: "Literatura é a expressão dos conteúdos da ficção, ou da imaginação, por meio de palavras de sentido múltiplo e pessoal. Ou, mais sucintamente, literatura é ficção".